09 novembro, 2006

Tragédia Matemática

Num certo livro de Matemática, um quociente apaixonou-se por uma incógnita.

Ele, o quociente, produto de notável família de importantíssimos polinómios.

Ela, uma simples incógnita, de mesquinha equação literal. Oh! Que tremenda desigualdade. Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito ao menos infinito.

Apaixonado, o quociente olhou-a do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos. Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide, boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais.

- Quem és tu? Perguntou o quociente com olhar radical.

- Eu sou a raiz quadrada da soma do quadrado dos catetos, mas pode chamar-me Hipotenusa-respondeu ela com expressão algébrica de quem ama.

Ele fez da sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito. E amaram-se ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, rectas e curvas nos jardins da quarta dimensão. Ele amava-a e o recíproco era verdadeiro. Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida.

Três quadrantes depois, resolveram casar-se. Traçaram planos para o futuro e todos lhes desejaram felicidade integral. Os padrinhos foram o vector e a bissectriz.

Tudo estava nos eixos. O amor crescia em progressão geométrica. Quando ela estava nas suas coordenadas positivas, tiveram um par: o menino, em honra ao padrinho, chamaram Vector; a menina, uma linda Abcissa. Ela sofreu duas operações.

Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante. Foi aí que surgiu um outro. Sim, um outro. O máximo divisor comum, um frequentador de círculos viciosos. O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta.

Ela sentiu-se imprópria, mas amava o Máximo. Sabedor desta regra de três simples, o quociente chamou-a de fracção ordinária. Sentiu-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles.

Quando os dois amantes estavam em colóquio amoroso, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e num giro determinante, disparou o seu 45.

Ela foi transformada numa simples dízima periódica e foi para o espaço imaginário e ele, foi parar a um intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.

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